Tony Blair lançou um duro ataque a David Cameron, seu sucessor em
Downing Street, que atribuiu os motins do início deste mês “ao declínio
moral” da sociedade britânica. Para o ex-primeiro-ministro, este
diagnóstico põe em causa a reputação do Reino Unido e impede um
diagnóstico adequado às causas dos distúrbios.
“Transformar isto num lamento pomposo de que o Reino Unido perdeu a sua moral, vai deprimir-nos desnecessariamente, destruir a nossa reputação no estrangeiro e, pior do que tudo, perderemos a oportunidade de lidar com o problema da única maneira que terá resultados”, escreveu o antigo primeiro-ministro trabalhista, num artigo publicado hoje no jornal “Observer”.
Num discurso no início da semana passada, Cameron prometeu combater o “lento declínio moral” que, segundo ele, esteve na origem da violência que começou no bairro londrino de Tottenham – após os protestos contra a morte de um habitante numa operação policial – e que, nas duas noites seguintes, se espalhou a outras partes da capital e, depois, a outras cidades britânicas. Retomando o velho lema da “Broken society”, o líder conservador culpou os últimos governos por terem “tolerado, aceitado, e por vezes até incentivado” os piores aspectos da natureza humana.
Nada mais errado, segundo Blair. O ex-primeiro-ministro sai em defesa dos 13 anos de poder trabalhista e de uma geração que, argumenta, “é mais respeitável, responsável e trabalhadora” do que a sua.
Na sua perspectiva, na origem dos distúrbios não está uma cultura de desresponsabilização (como alegam os conservadores), nem as privações sociais (como insiste a esquerda), mas “um grupo de jovens insatisfeitos
e desligados do resto da sociedade, que vivem uma cultura à revelia de todos os cânones de comportamento adequado”. A verdade, acrescenta, “é que muitas destas pessoas vêm de famílias profundamente disfuncionais e
que funcionam em termos completamente diferentes do resto da sociedade”, num fenómeno que é possível de encontrar “em virtualmente todas as nações do mundo desenvolvido”.
Blair, que chegou ao poder em 1997 com a promessa de “ser tão duro com o crime, como com as causas do crime”, diz agora que a solução passa por uma intervenção, família a família, associada ao combate ao crime organizado e a uma reforma do sistema judicial para combater os comportamentos anti-sociais. Uma agenda que, garante, deixou pronta quando em 2007 saiu do Governo, mas que nunca foi retomada.
Fonte:
http://www.publico.pt/